Alcoolismo é mais cruel para mulheres, segundo pesquisa da EACH

Postado em 05 de agosto de 2022

A dependência alcoólica, apesar de ser uma doença que afeta ambos os gêneros, se mostra pior para as mulheres, e vai da dificuldade de reconhecimento do vício ao efetivo tratamento da sua condição. É o que mostra o estudo realizado por pesquisadores e professores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

Edemilson Antunes – Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

Coordenador da pesquisa, o professor Edemilson Antunes de Campos frequentou reuniões promovidas pelos Alcoólicos Anônimos na cidade de São Paulo e afirma que as expectativas de gênero sobre a mulher, como ser uma boa mãe e uma boa dona de casa, impactam na maneira como essa mulher enfrenta o alcoolismo.

O professor faz referência à sociedade machista para dizer que “o ato de beber é visto como um ato social” para o homem, enquanto é malvisto para a mulher, “moldado a partir de um julgamento muito forte sobre elas”. Essa realidade, garante Campos, faz o alcoolismo atingir o gênero feminino de forma mais cruel, refletindo no tempo em que essa mulher demora para reconhecer sua condição.

O julgamento e a disparidade entre os gêneros se estendem para dentro das reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Segundo o professor, as mulheres enfrentam um desafio maior no compartilhamento de suas experiências em um ambiente dominado por homens; “suas demandas e queixas não são compreendidas e muitas vezes são julgadas”.

Durante as reuniões do AA, “as mulheres falam mais de assuntos relativos à sua própria intimidade, questões que envolvem realmente o gênero feminino, na família, no trabalho e no relacionamento com o parceiro”. Enquanto isso, os homens têm uma fala que “corresponde mais a uma vida exterior, como problemas profissionais”.

Reuniões exclusivamente femininas

As reuniões exclusivamente femininas surgiram como uma maneira de ajudar as mulheres a compartilhar suas angústias em um ambiente mais acolhedor. Campos pontua que os AA exercem importância fundamental no tratamento do alcoolismo, além de ser uma rede de apoio presente em todas as regiões do País que alcança pessoas de baixa renda, geralmente desassistidas pela saúde pública.

O número de reuniões apenas com mulheres ainda é muito baixo. Campos informa que, dos 120 grupos dos Alcoólicos Anônimos ativos na cidade de São Paulo, apenas dois promovem reuniões só para mulheres. E são grupos em que as mulheres se reúnem semanalmente e são bastante fortalecidas. “No grupo em que conduzi a pesquisa, essa reunião feminina ocorre há mais de 30 anos”, conta.

O processo de recuperação de dependentes alcoólicos é longo e, além da ajuda médica, o apoio emocional é fundamental na trajetória. Segundo o professor Campos, poder contar com um espaço onde as dores e o sofrimento possam ser compartilhados e compreendidos é muito importante. “As reuniões estritamente femininas são um caminho importante. Essa ajuda mútua entre as mulheres é uma ajuda fundamental que as fortalece.”

*Do Jornal da USP

Ouça no player abaixo entrevista com o professor Edemilson Antunes de Campos ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.