Aluna da EACH é premiada no “Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp-Vladimir Herzog”

Postado em 05 de março de 2021

A aluna do curso de Gerontologia da EACH/USP, Maria Luiza Araujo, recebeu nesta semana o “Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp-Vladimir Herzog”.

Maria Luiza foi premiada na categoria “Graduação” na área temática: “Ciências da Comunicação e Linguagem”, pelo seu trabalho de conclusão de curso do Bacharelado em Gerontologia da EACH, intitulado: “Envelhecimento feminino, idadismo e aparência: uma discussão sobre adaptações fílmicas do conto “Branca de Neve”.

Ela estudou a construção da aparência de personagens de adaptações cinematográficas do conto Branca de Neve, na perspectiva do idadismo. O trabalho de pesquisa ficou muito interessante, e é de grande atualidade considerando-se o envelhecimento populacional e a necessidade de educação gerontológica e de quebra dos estigmas em relação à população idosa para as presentes e futuras gerações.

Maria Luiza contou com a orientação da professora Bibiana Graeff. Assista a cerimônia de premiação.

Veja abaixo um resumo do trabalho:

No meu trabalho, analisei a construção da aparência das principais personagens femininas nos filmes “Branca de Neve e os Sete Anões” (HAND, 1937), “Branca de Neve e o Caçador” (SANDERS, 2012) e “Espelho, Espelho Meu” (SINGH, 2012), adaptações fílmicas do conto Branca de Neve, dos irmãos Grimm. Pude constatar, ao final, que os três filmes transmitem a ideia de desvalorização da aparência feminina na velhice. 

Nessas adaptações, assim como em diversas outras obras relacionadas às princesas, há uma supervalorização da beleza jovial da princesa em contraponto a uma desvalorização do envelhecimento e da velhice contida nas vilãs, sendo apresentadas como bruxas más. O envelhecimento feminino, nesse caso, está relacionado à perda de poder e da beleza, causando o preconceito em relação à idade, ou seja, idadismo. Algumas frases de cunho preconceituoso em relação ao avançar da idade, observadas nos filmes foram: 

Rainha Má: “[…] num disfarce tão perfeito que ninguém vai desconfiar. A fórmula que transformará minha beleza em feiura. Faz das minhas vestes de rainha, vestes de mendiga ‘Pó mágico para envelhecer’. O meu abrigo será o manto da noite. Para envelhecer minha voz: o riso de uma bruxa. Para branquear meus cabelos: um grito de horror. O vendaval aviva o meu ódio. O relâmpago para misturar. Agora começa o teu sortilégio”.  (Branca de Neve e os Sete Anões, 1937)

Ravenna: “Você não pode imaginar a sorte que tem por nunca saber o que é envelhecer!”. (Branca de Neve e o Caçador, 2012).

Rainha: “Mais jovem, mais linda. Mais jovem, mais linda”. (Espelho, Espelho meu, 2012).

Para realizar uma análise mais profunda e detalhada elaborei três quadros comparativos sobre a aparência de Branca de Neve e da Rainha, personagens principais e antagonistas desses filmes, utilizando o conceito de aparência formulado por Patrícia Yokomizo e Andrea Lopes (no artigo: “Aparência: uma revisão bibliográfica e proposta conceitual”, 2019), segundo o qual a aparência é “um conjunto de aspectos físicos, comportamentais, atitudinais, estéticos e simbólicos construídos e externalizados pelos indivíduos ou grupos, compondo sua apresentação pessoal ou coletiva”. 

Além desse conceito, também me baseei no Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento, também conhecido como Plano Madri, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2002), que incita  os meios de comunicação a promover e estimular uma imagem mais positiva em relação ao envelhecimento e à velhice. Infelizmente, isso não é verificado na prática, pois a mídia ainda distribui de forma velada e até mesmo explícita o idadismo em relação às pessoas idosas. Com a perpetuação do idadismo em relação aos mais velhos, como poderemos respeitar a sua dignidade e assegurar os seus direitos humanos?

Sendo assim, proponho que se avance no sentido de que haja mais representações nas mídias de personagens (principalmente femininas) que não neguem seu envelhecimento e nem a sua velhice, especialmente nas mídias voltadas ao público infanto-juvenil, para que desde crianças as pessoas comecem a entender e respeitar o processo de envelhecimento.