Combinação de quatro drogas ministradas em baixas doses reduz a disseminação do câncer em camundongos

Postado em 11 de maio de 2021

Baixas doses de uma combinação de quatro drogas ajudam a prevenir a disseminação do câncer em camundongos sem desencadear resistência às drogas ou recidiva, mostra um estudo publicado hoje na eLife, que contou com a participação do professor Alexandre Ramos, da EACH/USP. 

Os resultados sugerem uma nova abordagem para prevenir a metástase do câncer em pacientes, via tratamento que reduz, simultaneamente, as atividades das múltiplas vias componentes de uma rede promotora da metástase. Eles também podem ajudar a identificar as pessoas que provavelmente se beneficiariam com esse tratamento.

O espalhamento de células cancerosas pelo corpo, chamada metástase, é a principal causa das mortes decorrentes do câncer. Atualmente, o tratamento do câncer metastático utiliza altas doses de uma única droga ou combinações (coquetéis) de drogas para bloquear o funcionamento das vias que promovem a disseminação das células cancerosas. Mas essas abordagens podem ser tóxicas para o paciente, gerar produtos sobressalentes, e inadvertidamente induzir a ativação de vias compensatórias que habilitam as células tumorais a adaptarem-se ao tratamento e retomar seu crescimento e processo metastático.

“Há uma necessidade urgente de novas estratégias para suprimir a metástase do câncer, especialmente para cânceres como o câncer de mama triplo-negativo, que atualmente carece de terapias eficazes”, diz o autor do estudo, Ali Yesilkanal, pós-doutorando no Ben May Department for Cancer Research, da Universidade de Chicago, Estados Unidos.

No estudo, Yesilkanal e colegas analisaram dados de expressão gênica de pacientes que participaram do estudo Cancer Genome Atlas para entender como funciona uma proteína supressora de metástases chamada proteína inibidora de quinase Raf (RKIP, sigla em inglês). Eles descobriram que a RKIP reduz a expressão de uma rede de genes que promovem o espalhamento (isto é, a metástase) de células cancerosas.

Eles então criaram uma combinação de quatro drogas que imitam o mecanismo de supressão pela RKIP da capacidade das células cancerosas de se espalharem. Baixas doses da combinação de drogas foram ministradas a camundongos portadores de um câncer metastático que imita o câncer de mama metastático. Observou-se que a combinação bloqueou a propagação do câncer e aumentou a sobrevivência dos animais. É importante ressaltar que o tratamento não desencadeou os mecanismos compensatórios que frequentemente fazem com que as drogas anti-metástases em altas doses parem de funcionar e os tumores retornem.

Finalmente, a equipe usou um modelo computacional para explicar por que reduzir, mas não parar completamente, a expressão dessa rede de genes ajudou a prevenir metástases sem desencadear resistência às drogas ou recidiva. Eles também identificaram pacientes com câncer de mama no Cancer Genome Atlas que poderiam ter maior probabilidade de se beneficiar desse tratamento com base nos padrões de expressão do gene do câncer.

“Nossas descobertas podem levar a uma nova estratégia de tratamento do câncer em que os pacientes recebem primeiro uma combinação de drogas em baixa dosagem que bloqueiam a metástase e, em seguida, recebem tratamentos tradicionais de câncer, como radiação, quimioterapia ou imunoterapia”, diz a coautora sênior Marsha Rosner, do Charles B. Huggins Professor no Ben May Department of Cancer Research, da Universidade de Chicago.

“Nossos resultados desafiam as abordagens atuais para o tratamento do câncer e sugerem uma estratégia alternativa para controlar a metástase do câncer de mama e, potencialmente, em outros tipos de câncer”, conclui o coautor sênior Alexandre Ramos, líder de grupo na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.

Referência

O artigo ‘Limited inhibition of multiple nodes in a driver network blocks metastasis’ pode ser acessado gratuitamente online.

 

Sobre eLife

eLife é uma organização sem fins lucrativos criada por financiadores e liderada por pesquisadores. O objetivo é publicar trabalhos dos mais altos padrões e importância em todas as áreas da biologia e da medicina, incluindo a Cancer Biology, enquanto são exploradas novas maneiras criativas de melhorar a forma como a pesquisa é avaliada e publicada. A eLife recebe apoio financeiro e orientação estratégica do  Howard Hughes Medical Institute, da  Knut and Alice Wallenberg Foundation, da Max Planck Society  e da Wellcome.

Mais informações:

Site da eLife

 

 

 

*Com informações do professor Alexandre Ramos