Solução para moradores de rua depende da articulação de políticas públicas

Postado em 06 de fevereiro de 2020

Rompimento de vínculos familiares e comunitários, conflitos, separação, desemprego, recessão econômica, transtornos e saúde mental. Esses são apenas alguns dos exemplos das motivações que levam pessoas a viverem em situação de rua. Dados do Censo da População em Situação de Rua divulgados pela Prefeitura de São Paulo na última sexta-feira (31/01) indicam que, entre 2015 e 2019, houve um salto de 15 mil para 24 mil no número de pessoas que vivem nas ruas. O cálculo é controverso, visto que só o número das famílias cadastradas no Cadastro Único, do governo federal, que moram nas ruas, é de 30 mil na capital.

“Temos um desafio metodológico muito importante antes de fazer esse apontamento. Se, por um lado, é muito fácil ver as pessoas em situação de rua (em calçadas, viadutos), do ponto de vista do desenho de uma pesquisa de contagem é bastante desafiador mapear uma população que, por definição, é móvel. É necessário uma equipe de campo bem treinada, questões de abordagem para participação na pesquisa e você tem um território na cidade de São Paulo que é muito vasto”, aponta Renata Bichir, professora de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar.

 

Segundo Renata, a visão tradicional trata a assistência social como caridade e filantropia, o que a torna um problema, dado o histórico de intervenções datadas desde a década de 1970. No Brasil, a história da assistência social está ligada à luta pelo seu reconhecimento como política pública. “(É preciso) pensar a vulnerabilidade como registro de direito, política pública e integração de serviços. Não no registro de caridade. É óbvio que precisa da população, sociedade civil, comunidades religiosas mobilizadas e articuladas. Mas a gente precisa de políticas públicas estruturadas.”

Um plano de ação deve entrar em andamento pela Prefeitura com o Programa Municipal de Locação Social, que terá recursos do novo programa habitacional da cidade de São Paulo, intitulado Pode Entrar. A professora gosta da ideia e acredita que esse modelo pode gerar menos segregação ao ocupar espaços já existentes. “Mas tem que ser feito com critério. Não dá para ocupar cortiços caindo aos pedaços, prédios mal estruturados, que já vimos desastres (acontecer). A política de aluguel social tem que ser muito bem pensada. Vejo com bons olhos essa iniciativa, mas ela tem que ser acompanhada de perto.”

 

*Da Rádio USP