Cursos da USP: Gerontologia está de olho no envelhecimento do país

Postado em 14 de setembro de 2017

Envelhecer bem não é só uma questão de saúde. Não se sentir sozinho e ter ambientes sociais para frequentar são outros fatores de peso nesse processo. Melhor ainda é contar com políticas públicas para garantir os direitos e as necessidades de quem atingiu a terceira idade.

Seguindo essa combinação, tem-se o que a professora Rosa Chubaci, coordenadora do curso de Gerontologia da USP, chama de “velhice bem-sucedida”. E é para isso que trabalha o gerontólogo, profissional gestor do envelhecimento. “É a pessoa que ajuda a administrar e planejar a velhice”, explica.

Segundo a professora, todos deveriam ter um gerontólogo dentro da família. De fato, considerando que a expectativa de vida no Brasil caminha em sentido crescente, como apontam as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a tendência é que a presença do profissional seja cada vez mais requisitada.

Foi por causa dessa demanda que a USP inaugurou, em 2005, o primeiro curso de Gerontologia do País, que é oferecido pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na zona leste de São Paulo. Hoje, ela é uma das duas graduações em Gerontologia que existem no Brasil.

Para atuar como gestores, os gerontólogos trabalham em conjunto com famílias, instituições, empresas e órgãos públicos para identificar as necessidades dos idosos e poder, assim, oferecer a eles melhor qualidade de vida. São diferentes dos geriatras, os médicos especializados na saúde do idoso.

A carreira é caracterizada por uma visão ampla do processo de envelhecimento, incluindo perspectivas biológicas, psicológicas e sociais. Por isso, o curso não se encaixa em nenhuma área específica do conhecimento (exatas, humanas ou biológicas), sendo responsável pela formação de profissionais generalistas.

Mercado de trabalho

No plano familiar, a presença do gerontólogo é importante para identificar as necessidades do idoso, seja com formas de administrar melhor os cuidados com a saúde ou encontrar compromissos sociais. É também responsável por fazer a conexão com outros profissionais que possam oferecer a assistência específica em cada caso.

“Enquanto o idoso está bem, a família tem uma dinâmica muito boa. Porém, quando começam a aparecer problemas de saúde, principalmente demências, a família entra em colapso”, lembra a professora Rosa.

O gerontólogo também pode atuar em diversos serviços voltados para a atenção da população idosa, como instituições de longa permanência, centros de convivência, empresas de home care e equipamentos públicos, como unidades de saúde e centros de referência do idoso (CRIs).

Professora Rosa com alunos do programa Universidade Aberta à Terceira Idade, no qual alunos da graduação atuam como monitores – Foto: Rosa Chubaci

Formada em 2016 pela EACH, a gerontóloga Camilla Vilela foi logo contratada pela instituição de longa permanência onde fez estágio. Ela é a única graduada em Gerontologia da equipe, e participa tanto da gestão das atividades que são oferecidas quanto do acompanhamento do dia a dia dos idosos que frequentam o local.

“Muitas vezes, passa pela cabeça do idoso que ele está sendo abandonado pela família estando aqui”, explica Camilla. Por isso, é importante atender às demandas de cada um, fazendo com que as atividades não sejam fonte de frustração e estejam de acordo com os seus interesses pessoais.

Coordenadora do curso com alunos da graduação – Foto: Rosa Chubaci

A programação do dia, que fica por conta de Camilla, inclui desde atividades físicas, como zumba, até aulas de informática — uma habilidade para quem quer, por exemplo, manter contato com a família que está longe. É no curso de teatro, contudo, em que a gerontóloga percebe uma maior transformação e envolvimento dos participantes.

Na oficina de culinária, uma frequentadora veio dizer que se lembrou de quando fazia rocambole para os filhos. Esses momentos de conversa com os idosos e as famílias permitem que as relações na instituição não se limitem apenas ao campo profissional. “É muito gratificante”, diz Camilla.

Pensando na macrogestão, a Gerontologia também abre espaço dentro da gestão de políticas públicas, possibilitando a criação e a implementação de projetos de lei como o Estatuto do Idoso. Para seguir na área acadêmica, a EACH oferece desde 2015 o programa de mestrado na área.

Universidade aberta

“Os jovens têm a sensação de que devem controlar a vida dos pais e dos avós, esquecem que eles já foram muito ativos”, diz a professora Rosa – Foto: Rosa Chubaci

A unidade da USP que hospeda o curso de Gerontologia é também a mais frequentada por idosos. A própria professora Rosa, que coordena o curso da graduação, é corresponsável por diversas aulas voltadas à terceira idade, como dança sênior, ioga, origami e libras.

As atividades ocorrem por meio do programa Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) e recebem os alunos da graduação como monitores. Confira o vídeo sobre uma dessas ações, a Oficina de Turismo:

A estudante Andressa Raiane, aluna do sexto semestre do curso, é uma das responsáveis pela oficina Idosos On-line, que promove a alfabetização digital a partir do uso das tecnologias mais recentes. “Não oferecemos aulas apenas nos computadores convencionais, temos também os módulos de tablet e smartphone”, ela conta.

Andressa é presidente da Liga de Gerontologia da EACH que, em conjunto com outras entidades estudantis, promove o projeto Divulga EACH Geronto para divulgar o curso entre estudantes do ensino médio. A iniciativa é importante para esclarecer qual é o papel do gerontólogo, informação que acaba um tanto difusa por ser uma profissão nova e de caráter generalista.

“A maioria entra no curso pensando que fará um trabalho muito próximo ao da geriatria ou de cuidadores de idosos. E que fique claro: não fazemos nem um nem outro”, lembra a estudante. “Entendemos como funcionam todos os mecanismos biológicos do processo de envelhecimento e as noções gerais do cuidado, mas não medicamos”, completa.

Projeto de lei

As atribuições dos gerontólogos devem ficar mais claras quando a profissão for finalmente regulamentada no País. Essa é, pelo menos, a expectativa dos bacharéis, que observam desde 2012 a tramitação do projeto no Senado Federal.

Conquistar a regulamentação é um dos objetivos da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), implantada em 2009 pela primeira turma de formados na EACH. É como explica Thais Bento, gerontóloga e doutoranda da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que integra o conselho executivo da associação. “Hoje existem aproximadamente 600 profissionais formados atuando no mercado nacional, usando seus conhecimentos, mas ainda sem a regulamentação profissional”, aponta Thais.

Em 2013, a proposta tornou-se projeto de lei (PLS 334/2013) e agora está em decisão terminativa na Comissão de Assuntos Sociais, podendo ser aprovado a qualquer momento. “Toda profissão quando é criada, espera-se que seja regulamentada. Quando existe uma interface com a área da saúde, essa exigência torna-se muito maior”, lembra Thais.

Para opinar sobre o processo de regulamentação da profissão de gerontólogo, é possível participar da consulta pública do Senado.

Quer saber mais sobre o curso?

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP está localizada na zona leste da cidade de São Paulo. Confira:

Formas de ingresso

Bacharelado em Gerontologia

Período: Vespertino
Vagas: 60
Vagas via Fuvest: 42
Vagas via Sisu: 18

  • Vestibular organizado pela Fuvest: inscrições encerradas
  • Sisu: as inscrições para seleção de 2018 ainda não foram abertas, mas acompanhe pelo site do MEC ou da Pró-Reitoria de Graduação

 

*Do Jornal da USP