A prática da meditação e de paisagens sonoras como estratégias para a prevenção e promoção da saúde

Postado em 28 de janeiro de 2020

Após a finalização de um ano acadêmico frutífero e respondendo as necessidades percebidas ao longo do desenvolvimento das atividades práticas com os alunos, especialmente quanto ao estresse no cotidiano, foi realizado no dia 4 de dezembro de 2019, no Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, situado na zona leste de São Paulo, uma tarde de Música e Meditação junto aos funcionários das diferentes unidades assistenciais. Esta nova iniciativa foi organizada pelas docentes do curso de Obstetrícia da EACH-USP, professoras Dora M. Salcedo-Barrientos, Maristela Urasaki e Rosemeire Sartori de Albuquerque, em parceria com Serviço de Educação Continuada do hospital, sob a responsabilidade da Enfermeira Elisabete Ozeki.

O referido hospital presta atendimento às mulheres e seus familiares durante o período de pré-natal, parto e pós-parto em condições de risco habitual, baixo e alto risco, além de problemas ginecológicos. A demanda do hospital é alta e recebe boa parte da zona leste, tendo como peculiaridade o atendimento de mulheres estrangeiras prioritariamente procedentes da América do Sul.

Os profissionais que atuam com essa população vivenciam no cotidiano diversos enfrentamentos e desafios comuns a todos os serviços públicos de saúde no Estado de São Paulo, quais sejam, as morbidades e mortalidades maternas e do recém-nascidos, gestações indesejadas, situações de violência e abusos entre outros. Estudos mostram que ambientes fechados podem gerar sentimentos e comportamentos não saudáveis para a equipe de saúde. Alterações do sono, apetite, angústia, baixa estima, irritabilidade, tristeza, medo são comuns entre os profissionais que vivenciam situações estressantes.

Após diálogo com o serviço de educação continuada, decidiu-se em realizar atividade de meditação no hospital com foco em “cuidar de quem cuida”. O esforço foi desenvolver atividades de meditação, de reconhecimento e de construção de paisagens sonoras com grupos de profissionais do serviço que prestam assistência em Obstetrícia, Ginecologia e Neonatologia.

A prática não exige conhecimento prévio, é isenta de relação com qualquer crença espiritual ou filosófica podendo ser realizada por qualquer pessoa. Fácil e agradável de realizar, essa técnica não requer esforço ou habilidades especiais e contém exercícios simples de respiração e escuta sensível que podem ser realizados em qualquer ambiente. Os exercícios foram apresentados pelos facilitadores em meditação e música Marcos Lopes, sob a orientação da Profa Dra Ana Paula Cascarani, ambos musicoterapeutas.

 

Por que a meditação e as paisagens sonoras?

A meditação, música e os sons estão muito próximos do humano. A meditação é considerada uma prática para alcançar clareza mental e emocional e a música e os sons que compõem as paisagens sonoras fazem parte da identidade humana, estão dentro e fora da pessoa; ambos podem ser acessados e produzem mudanças e alterações no organismo e no comportamento humano.

O resultado do contato com a musicalidade, com a sonoridade e com a prática meditativa é a educação da mente, o aprimoramento das habilidades para lidar melhor com as emoções, conviver melhor consigo mesmo, auxiliar na diminuição de pensamentos distrativos e destrutivos, melhorar a atenção, melhorar a saúde e as relações familiares e profissionais. Estudos atestam que as pessoas que praticam meditação com regularidade se mostram mais alegres, estáveis emocionalmente e confiantes e quem possui contato com sua musicalidade consegue administrar melhor os descompassos da vida e escutar além do ouvir, abrindo possibilidades para uma comunicação mais dialogada e colaborativa.

 

A experiência com os profissionais

Foram realizadas atividades com duração aproximada de cinquenta minutos com três grupos de diferentes setores do hospital, totalizando trinta e dois participantes. Os grupos foram previamente divididos pela equipe de enfermeiras supervisoras. Os espaços cedidos foram organizados de modo a alocar as cadeiras específicas para a meditação e os instrumentos utilizados neste tipo de vivência.

Os instrumentos musicais utilizados foram: Handpan, flauta de madeira, sinos tibetanos, kalimba, metalofone e guizos. A escolha dos instrumentos musicais foi baseada na história e nos parâmetros sonoros (altura, intensidade, timbre e duração) de cada um.

Os facilitadores usaram diversas técnicas de meditação como a passiva-contemplativa cujo fundamento é a atenção plena e a escuta sensível apoiada na ressonância por meio da produção de sons de instrumentos musicais. No final, os participantes partilharam verbalmente suas impressões, sensações e atribuíram significados a experiência vivida.

Ao final da experiência os participantes compartilharam sentimentos e sensações e revelaram ter conseguido se desconectar dos sons externos como choro dos bebês, da voz da chefe, das demais conversas do corredor e afirmaram que a experiência foi muito positiva ao possibilitar a experiência de viver um momento de contato consigo mesmo, ou seja, um instante oportuno de vivência do sentido de Presença, Existência e Revelação de Potencialidades.

Não houve nenhuma resistência para participar da atividade, inclusive demonstraram muito interesse em continuar realizando e praticando a meditação com as paisagens sonoras e foram expressos desejos de participar em outras oportunidades solicitando dar continuidade a programas desta natureza de forma regular.

 

* Com informações da professora Dora M. Salcedo-Barrientos