Em visita à EACH, Mia Couto tem bate-papo descontraído com estudantes e fãs

Postado em 15 de abril de 2019

O escritor moçambicano Mia Couto visitou, na manhã da última sexta-feira, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH/USP) para um bate-papo sobre suas obras e sua vida com estudantes, fãs e leitores. O evento ocorreu no Auditório Azul da Escola, o qual ficou completamente lotado, e ainda encheu os outros dois auditórios Vermelho e Verde, que transmitiram a conversa ao vivo no telão, pelo IPTV da USP.

Antes de iniciar a conversa com o público, Mia Couto foi recebido por um grupo de estudantes que integram o Cursinho Popular da EACH, cursinho pré-vestibular direcionado a estudantes de baixa renda da zona leste de São Paulo. Os alunos explicaram ao escritor o objetivo do cursinho, como se dá o seu funcionamento e mostraram a sala de aula em que as atividades do cursinho são realizadas. Participaram também desse rápido encontro alguns membros do grupo LiteraSampa, rede de bibliotecas comunitárias espalhadas pelas periferias de São Paulo, Guarulhos e Mauá. O escritor recebeu alguns presentes dos estudantes e do LiteraSampa e ainda doou vários exemplares de suas obras para o Cursinho Popular e para a Escola Estadual Irmã Annette.

 

Durante o bate-papo com o público, Mia Couto falou sobre o que mais gosta dos brasileiros, sobre o poder humanizador da literatura e de seu desassossego para escrever. “É preciso ter um desassossego para escrever e também para viver, pois é só dessa maneira que mudamos as coisas, é por meio desse sentimento de inquietação”, destacou ele, que abordou ainda assuntos da vida pessoal e de sua família.

“Há muitas razões pelas quais escrevo, mas uma delas especialmente tem relação com meus pais. Eles eram imigrantes e fugiram de uma ditadura em Portugal. Meus pais sempre me contavam histórias antes de eu adormecer. Lembro desse momento mágico, em que eles contavam histórias com paixão. Mesmo não estando mais ali em Portugal, eu conseguia sentir a terra da qual eles me falavam. Essa viagem, essa possibilidade por meio de uma história, de criar essa relação encantada com o outro, isso sim é o que eu procuro resgatar em meus livros.”

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O biólogo, jornalista e autor de mais de trinta livros comentou sobre como enfrentar um mundo cada vez mais intolerante, da importância de escutar o outro e de desfazer estereótipos. Mia Couto respondeu várias perguntas feitas pelo público e ainda destacou como funciona o processo de criação de seus personagens. “São os personagens que me revelam a história e, de certa forma, acabam revelando um pouco de mim, revelam quem eu sou.”

O bate-papo foi mediado pela mestranda Bel Santos Mayer, do Programa de Pós-Graduação em Turismo (PPGTur) da EACH e idealizadora da LiteraSampa. A conversa teve a participação também de Nathan Figueiredo, aluno de Sistemas de Informação e membro do Cursinho Popular EACH, e de Daiane Almeida, estudante de Pedagogia e integrante da LiteraSampa e da Companhia Teatral Artemanha. A visita do premiado escritor moçambicano à EACH foi possível graças ao convite da Companhia das Letras, da LiteraSampa e do PPGTur da Escola.

O evento com o escritor foi aberto pelo professor Thiago Allis, do Programa de Pós-Graduação em Turismo, e contou também com as boas-vindas do vice-diretor da EACH, professor Ricardo Uvinha. Aberta ao público, a conversa com Mia Couto recebeu estudantes, professores, funcionários, fãs e leitores, além do ex-senador e atualmente vereador da cidade de São Paulo Eduardo Suplicy.