“Identidade, Tolerância e Construção da Noção de Nordeste” foi tema de palestra ministrada por Durval Muniz

Postado em 14 de novembro de 2019

No último dia 11 de novembro, durante três horas e meia, a EACH/USP teve a oportunidade de sediar a conferência “Identidade, Tolerância e Construção da Noção de Nordeste”, com a participação do historiador e professor Durval Muniz de Albuquerque. O evento foi organizado pelas professoras Valéria Magalhães (GEPHOM/USP) e Valéria Cazetta (Grupo de Pesquisa Culturas Visuais e Experimentações Geográficas/USP), ambas docentes da EACH/USP.

Texto original disponível aqui – de Valéria B. Magalhães 

A atividade contou com aproximadamente 110 participantes, entre alunos de graduação e de pós-graduação, docentes da EACH, docentes de outras unidades, e público do entorno do campus.

O evento foi aberto pela professora Valéria B. Magalhães, que lembrou os 10 anos de existência do GEPHOM e agradeceu a presença de todos e a ajuda dos organizadores e dos setores da EACH que colaboraram com o evento. Ela ressaltou a importância da presença dos nordestinos na configuração atual dos bairros da Zona Leste de São Paulo e, dessa forma, a relevância de se fazer um ciclo de debates sobre o tema “Nordeste” no campus da USP Leste.

A palestra de Durval faz parte do Ciclo de Debates Nordeste(s), promovido pelo GEPHOM.

Em seguida, a professora Cynthia H. Correia falou em nome do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais, o qual financiou o evento com verba PROAP/CAPES. Ela deu as boas-vindas aos presentes. A professora Valéria Cazetta apresentou Durval Muniz de Albuquerque e sua obra, mediando as perguntas, ao final da palestra.

A conferência do professor Durval versou sobre a história da construção de uma noção de Nordeste, a partir do final do século XIX, ideia que não existia até então. Processos que contribuíram para essa invenção foram citados detalhadamente e explicados a partir dos vieses cultural, histórico, econômico e político.

Dentre esses processos, foram mencionados, por exemplo, o deslocamento do nordeste para o sudeste, no começo do século XX, e a produção cultural do final do século XIX, que diferenciava modos de vida do norte e do sul do país (literatura do norte X literatura do sul), a chamada “Literatura das Secas”, a qual fomentou um certo imaginário de nordeste árido, rural e atrasado.

Segundo o professor, o termo “Nordeste” apareceu pela primeira vez em 1891, ainda não como identidade e sim como campo geográfico. Foi nos anos 1920, que intelectuais como Gilberto Freyre começaram a dar sentido ao termo e a um conjunto de imagens ligadas a ele. O conceito então foi ressignificado, ao longo do século XX. Ele também explicou o que significa a ideia de “conceito”.

Na literatura, Durval apontou, entre outras, a tentativa de Mário de Andrade de criar uma oposição entre o modernismo paulista (de Mário de Andrade) e uma ideia de tradicionalismo/regionalismo pernambucano (de Gilberto Freyre).

O professor Durval Muniz tocou em inúmeros outros assuntos ligados a essa construção de nordeste, passando pelas artes (por exemplo, tropicalismo, Mangue Beat e Movimento Armorial), Literatura (Suassuna, José Lins do Rego e outros), pintura (Portinari), cinema (Glauber Rocha) migrações, política, a diversidade dos aspectos naturais de toda a região, a história da literatura de cordel, etc.

Dentre os principais eixos que sustentam a construção do Nordeste, Durval apontou os seguintes: sua natureza imaginada; uma ideia de cultura própria (uma suposta cultura brasileira original); e o imaginário do coronelismo/cangaço.

A abrangência do conhecimento de Durval Muniz e seu carisma e oratória contribuíram para que os presentes permanecessem concentrados e encantados por sua exposição. Foi uma aula em que todos aprenderam sobre a história do Nordeste e de suas configurações sociais, que proporcionou uma reflexão crítica sobre a forma como os “de fora” veem a região.

O evento teve financiamento do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais/USP e contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais, do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política/USP, e do Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas.

 

 

* Durval Muniz de Albuquerque é historiador, professor visitante da UEPB e professor Titular aposentado da UFRN e coordenador do Comitê da Área de História do CNPq, Dentre suas principais publicações estão: A Invenção do Nordeste e Outras Artes, e História: A Arte de Inventar o Passado. Atua nos seguintes temas: gênero, nordeste, masculinidade, identidade, cultura, biografia histórica e produção de subjetividade.

Mais informações sobre o evento e sobre as próximas palestras do Ciclo de Debates Nordeste(s): https://www.facebook.com/gephomusp/