Memória negra do centro de SP é pouco visível nos circuitos oficiais de turismo

Postado em 28 de junho de 2021

O estudo Cidade em preto e branco: turismo, memória e as narrativas reivindicadas da São Paulo Negra, desenvolvido na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH/USP) mostra como o turismo “oficial” da cidade acabou reproduzindo uma política de branqueamento. “A presença negra pouco aparece nos guias e mapas elaborados por órgãos oficiais de Turismo”, afirmou a pesquisadora Denise dos Santos Rodrigues, na entrevista ao podcast Os Novos Cientistas do Jornal da USP.

 

Em sua pesquisa de mestrado, que teve a orientação do professor Luiz Gonzaga Godoi Trigo, Denise analisa iniciativas de afroturismo que resistem, recontam e reivindicam uma São Paulo Negra. De acordo com a pesquisadora, apesar de existir nos órgãos oficiais de turismo um roteiro específico de temática afro, o documento encontra-se desatualizado, incompleto e carece de informações que versem sobre a negritude na formação da sociedade paulistana e brasileira. Ao mesmo tempo em que o Turismo reforça uma narrativa de apagamentos por meio de políticas oficiais que destacam a presença imigrante e bandeirante, essa narrativa é confrontada por meio de iniciativas de afroturismo que resistem, recontam e reivindicam a São Paulo Negra.

A pesquisa analisou os distritos da Sé, República, Liberdade e Bela Vista, locais que remontam às origens e expansão de São Paulo. Ainda hoje, esses locais são considerados pontos turísticos importantes e são territórios fortemente marcados pela história negra na capital paulista. “Delimitei pelo centro porque São Paulo nasceu no Pátio do Colégio e, posteriormente, selecionei os outros distritos. A Liberdade, por exemplo, originalmente era um bairro de forte presença negra e há marcas que ainda resistem naquele local, como a Capela dos Aflitos”, contou a pesquisadora. “A Liberdade era conhecida como a Praça da Forca e na região havia o pelourinho da cidade.”

 

*Do Jornal da USP