Obstetrícia: formando profissionais a favor dos direitos da mulher

Postado em 07 de agosto de 2017

Ao lado do Egito e da República Dominicana, o Brasil ocupa o pódio dos países onde mais da metade dos partos são realizados por cirurgias, as cesáreas. Segundo o Ministério da Saúde, 55,5% dos 3 milhões de nascimentos ocorridos em 2016 foram feitos através dessa técnica, mesmo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende que não se ultrapasse 15%.

Dentre outras razões, a falta de profissionais qualificados para lidar com partos normais colabora para essa situação. Por isso, em 2005, foi criado o curso de Obstetrícia, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, para atender às mulheres em fase de gravidez.

“A graduação foi criada para pensar temas sobre contemporaneidade, gênero, cuidados e relações humanas em saúde”, explica a professora Nadia Zanon Narchi, coordenadora da graduação em Obstetrícia. “Além disso, a formação de obstetrizes vem suprir uma necessidade nacional de diminuir o número de cesáreas.”

A obstetrícia é a ciência que estuda a reprodução humana. Investiga a gestação, o parto e o pós-parto nos seus aspectos fisiológicos e patológicos. O termo “obstetrícia” vem da palavra latina obstetrix, que é derivada do verbo obstare (ficar ao lado).

Estudantes do curso de Obstetrícia – Foto: Facebook / Obstetrícia – EACH USP

Formação

Assim como é feita em outras partes do mundo, a formação de obstetrizes na USP é oferecida de forma direta, ou seja, através de um curso de graduação. Existem no Brasil três carreiras distintas nessa área:

  • Medicina: para o médico receber o título de especialista em ginecologia e obstetrícia, é necessário participar do programa de residência médica com duração de três anos. Alternativamente, pode-se prestar concurso promovido pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Após essa especialização, o médico está apto a realizar toda a assistência à mulher no atendimento ginecológico e obstétrico, inclusive parto cesárea.
  • Enfermagem: para o enfermeiro receber o título de especialista em obstetrícia, é necessário realizar curso de especialização em enfermagem obstétrica. Ele pode atuar no atendimento ao pré-natal, parto e puerpério de baixo risco, ou seja, casos em que não há complicações. Quando um risco é detectado, a responsabilidade passa a ser do médico.
  • Obstetrícia: o profissional obstetriz possui uma atuação semelhante à do enfermeiro especialista em obstetrícia, mas difere dele na formação. Enquanto o enfermeiro precisa ter o diploma em enfermagem e a especialização em obstetrícia, a formação em obstetrícia permite que o obstetriz realize a assistência obstétrica sem a necessidade da especialização.

Na USP, o curso de Obstetrícia é integral e possui dois eixos, o ciclo básico e o específico. O primeiro abrange disciplinas comuns a todos os cursos da EACH, que dão ao aluno uma visão interdisciplinar e uma base sobre questões ligadas à cidadania, sociedade, arte, cultura, educação, ciências da natureza, entre outros assuntos.

A saúde e o bem-estar da mulher são o foco das disciplinas especializadas do curso, que, além da formação social, tem muito conteúdo em biologia. Apesar disso, a professora Nádia assegura que, para seguir na carreira, a pessoa interessada precisa estar disposta “a cuidar de pessoas, independentemente da origem socioeconômica”.

Além da sala de aula, o curso também conta com um estágio integrado à graduação para preparar o estudante para o mercado.

Mercado de trabalho

Geralmente, obstetrizes atuam em hospitais públicos e privados, casas de parto, atenção básica e equipes de saúde. Em obstetrícia, são raros os estudantes que seguem na área acadêmica, de pesquisa, segundo a coordenadora da graduação.

Apesar de desempenharem tarefas complementares, obstetrizes não são doulas. Enquanto as primeiras têm conhecimento técnico e profissional da gestação e do parto, as segundas dão um suporte maior no aspecto psicológico durante e após a gestação.

Entre as atividades do profissional formado estão o acompanhamento do pré-natal, a ajuda no planejamento reprodutivo e familiar das pacientes, consultas no período do puerpério e do aleitamento. Obstetrizes também podem diagnosticar doenças em seus pacientes e encaminhá-los para outras áreas médicas, visto que não possuem treinamento para tratá-los.

Um dos motivos que levaram à criação do curso foi o objetivo de diminuir casos de violência obstétrica que ocorrem em todo o País. “A profissão existe para garantir os direitos das mulheres e para fazer partos respeitosos”, afirma Carla Azenha, aluna da primeira turma da graduação em Obstetrícia da USP.

Alunas visitam o estande do curso de Obstetrícia na Feira de Profissões da EACH – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Como o nascimento de sua filha fora complicado, ela viu na profissão uma oportunidade de impedir que outras mães passassem pelo mesmo sofrimento. Após trabalhar como bancária por 20 anos, Carla trocou os números pelo dia a dia em consultórios e salas de parto, onde trabalha desde 2009.

Para ela, “falta muito para a mulher conseguir sua autonomia, mas quanto mais profissionais capacitados se formarem, mais perto estaremos de satisfazer essa demanda”.

E completa: “Nós somos capacitadas para trabalhar de acordo com os desejos e escolhas das mulheres e com as normas e técnicas da obstetrícia. As obstetrizes são parceiras das mulheres”.

Quer conhecer mais sobre o curso?

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP está localizada no campus da zona leste, na cidade de São Paulo. Confira:

Formas de ingresso

Graduação em Obstetrícia
Período: Integral
Vagas: 60
Fuvest: 42
Sisu: 18

  • Vestibular organizado pela Fuvest: inscrição de 21 de agosto a 11 de setembro, neste site.
  • Sisu: as inscrições para seleção de 2018 ainda não foram abertas, mas acompanhe pelo site do MEC.

*Do Jornal da USP