Para compreender a possível “savanização da Amazônia”, professor da EACH coordena pesquisa que reconstituirá as mudanças climáticas e ambientais da Amazônia e do Atlântico dos últimos 250 mil anos

Postado em 01 de julho de 2019

A interação entre as mudanças climáticas e o desmatamento podem induzir a floresta amazônica a transpor um limiar crítico que resulte na substituição em larga escala da floresta tropical por ecossistemas não-florestais.

Esta substituição é preocupante e foi também denominada “savanização da Amazônia”. Apesar de completar 20 anos em 2019, a hipótese de que esta substituição realmente ocorra apresenta grandes incertezas.

Oceano Atlântico Tropical

Estas incertezas estão, pelo menos em parte, relacionadas a outro elemento do sistema climático que pode igualmente estar próximo de um limiar: a célula de revolvimento meridional do Atlântico.

Trata-se de uma circulação de grande escala presente no Oceano Atlântico que leva águas superficiais do Atlântico Sul para as altas latitudes do Atlântico Norte aonde elas afundam e fluem de volta para o Atlântico Sul, retornando à superfície ao redor da Antártica.

Além de transportar um grande volume de água, esta circulação transporta também uma enorme quantidade de energia, mais precisamente o equivalente à 100 mil vezes a produção de energia da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Este marcante transporte de energia contribui com o controle da temperatura da superfície do Oceano Atlântico tropical que, por sua vez, influencia as chuvas sobre a Amazônia.

Uma possível interrupção na circulação de grande escala do Oceano Atlântico causaria marcantes mudanças da temperatura da superfície do Oceano Atlântico, afetando intensamente as chuvas amazônicas.

Estas mudanças ocorreram repetidas vezes no passado geológico, aonde se encontram registradas.

Em um grande projeto recentemente aprovado pela FAPESP na linha de fomento Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes – Fase 2, uma pesquisa coordenada pelo professor Cristiano

Foraminífero Planctônico

Mazur Chiessi, da EACH/USP, buscará reconstituir com resolução temporal nunca antes obtida, as mudanças climáticas e ambientais pretéritas da Amazônia e do Oceano Atlântico adjacente para os últimos 250 mil anos, amparados em extensiva calibração de indicadores paleoambientais.

Para tanto, serão analisados parâmetros geoquímicos, isotópicos e biológicos em sedimentos fluviais modernos da América do Sul tropical para calibrar indicadores paleoambientais, e testemunhos sedimentares marinhos do oeste do Oceano Atlântico tropical para reconstituir condições climáticas e ambientais pretéritas.

Este projeto aprofundará o entendimento a respeito das respostas e mecanismos internos de retroalimentação da Amazônia e do oeste do Oceano Atlântico tropical para mudanças climáticas

abruptas, climas mais quentes que o pré-industrial, e condições ambientais de contorno distintas das pré-industriais, colaborando na caraterização de cenários futuros para a Amazônia e para o Oceano Atlântico tropical.

Com o título “Perspectivas pretéritas sobre limiares críticos do sistema climático: a Floresta Amazônica e a célula de revolvimento meridional do Atlântico (PPTEAM)”, maiores detalhes do projeto podem ser acessados no portal da FAPESP.

Outras instituições participantes do projeto:

Internacionais: Laboratório de Ciências do Clima e do Ambiente (França), Universidade de Bremen (Alemanha), Universidade de Cambridge (Reino Unido), Universidade Duke (EUA).

Nacionais: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal do Amapá, Universidade Federal do Amazonas e Universidade Federal do Pará.