Professor da EACH conduz experimentos em larga escala para investigar os impactos da intensificação na agricultura

Postado em 05 de junho de 2019

O interesse mundial pelos biocombustíveis como alternativa renovável de fornecimento de energia para o transporte despertou uma série de questões importantes. Do ponto de vista ambiental, a preocupação de que a expansão das culturas de biocombustíveis promoveria o desmatamento de habitats nativos. Do ponto de vista social, a preocupação de que a expansão das culturas de biocombustíveis disputaria o uso da terra com a produção de alimentos, promovendo seu encarecimento.

A solução apontada foi a intensificação no uso da terra – produzir mais na mesma área. No Brasil, especificamente, a solução compreenderia adensar o gado em pastagens intensivas, liberando espaço nos mais de 200 milhões de hectares de pastagens extensivas para o plantio tanto de alimentos quanto de cana-de-açúcar.

Esta solução, embora intuitiva, tem consequências ambientais pouco conhecidas.

O professor Luis Schiesari é Pesquisador Principal de um Projeto Temático investigando as consequências ecológicas, ecotoxicológicas e biogeoquímicas da intensificação no uso da terra (FAPESP 2015/18790-3; 2017-2022; Luiz A. Martinelli Pesquisador Responsável; Luis Schiesari e Janaina Carmo Pesquisadores Principais).

Neste projeto, o professor Schiesari está liderando uma equipe de mais de 30 pesquisadores, pós-graduandos e alunos que busca entender as consequências da intensificação sobre a biodiversidade. Isso inclui avaliar os impactos diretos e indiretos de agrotóxicos e fertilizantes, por um lado, e a forma e velocidade de recuperação da biodiversidade após as perturbações relacionadas ao manejo da terra, por outro. Outras equipes estão investigando a emissão de gases estufa, a ciclagem de nutrientes como o nitrogênio e o fósforo, e a erosão e a compactação do solo.

O principal elemento deste projeto é um experimento em escala ecossistêmica onde pastagens extensivas em três fazendas do interior do estado – em Sorocaba, Brotas e Manduri – estão sendo manipuladas de forma a simular usos da terra e práticas agrícolas importantes na região Centro-Sul do Brasil. Em 2018, quinze plots de 50m X 50m de pastagem extensiva foram demarcados em cada fazenda. Um terço destes plots permaneceu como pastagem extensiva como controle (base de comparação); um terço foi convertido para pastagem intensiva por meio de calagem, adubação e plantio de capins de alto desempenho; e um terço destes plots foi convertido para canaviais por meio de calagem, adubação, plantio e manejo de agrotóxicos (fotos). No centro de cada plot foi construída uma poça artificial de 9.000L (um ´mesocosmos´) inoculado com algas, invertebrados e plantas aquáticas para avaliar as consequências do manejo do entorno na integridade de ecossistemas aquáticos.

Posteriormente, pretende-se fazer o upscaling dos resultados deste experimento, por meio de modelos matemáticos, para responder perguntas como qual o ganho em termos de orçamento de carbono, de adotar biocombustíveis; qual fração da biodiversidade é mais vulnerável à contaminação; e como usar este conhecimento para a conservação e restauração da biodiversidade rumo à sustentabilidade ambiental da agricultura brasileira.

Um dos mesocosmos (ecossistemas aquáticos experimentais) de 9.000L cercado de cana-de-açúcar – Foto: Luis Schiesari