Projeto na EACH mapeia a rota da cachaça artesanal em Salinas – MG

Postado em 15 de outubro de 2015

O Brasil é reconhecido por diversas razões, entre elas sua gastronomia, fruto da diversidade cultural do país. Dos itens aqui produzidos muitos ganharam destaque também no mercado internacional – é o caso da cachaça, produto tipicamente brasileiro. A bebida tornou-se tema do projeto Empreendimento Criativo Brasileiro: Criação da Rota da Cachaça Artesanal em Minas Gerais, coordenado pela professora Cynthia Corrêa, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

O projeto, iniciado em março de 2014, tem como objetivo montar a história da rota da cachaça artesanal em Salinas, cidade referência na produção da bebida – localizada no estado responsável por 50% da produção da cachaça brasileira: Minas Gerais. A pesquisa enfatizou o desenvolvimento da cultura local através da interlocução com a gastronomia e o turismo regional. A intenção é oferecer mecanismos que promovam o empoderamento da comunidade. Por essa razão, foram criados o site Cachaça Tour e o aplicativo Cachaça para dispositivos móveis, que se destinam a divulgar a região e seu principal produto.

Empreendedorismo criativo

O programa partiu de um edital lançado pelo CNPq em parceria com o Ministério da Cultura e, ao contrário de pesquisas tradicionais, não tem como fim a entrega de um livro, tese ou similares, estando inserido em uma categoria mais específica da indústria criativa. Segundo a professora Cynthia Corrêa, o turismo criativo está relacionado à valorização dos serviços e mercadorias oferecidos, além da integração do visitante com o local.

“O turista, hoje em dia, procura por novas experiências. Desse modo, ele não quer chegar a um lugar novo e fazer os mesmo passeios que as demais pessoas ou se contentar em conhecer os pontos mais famosos, ele quer viver o momento. É do perfil do viajante moderno querer aproximar-se das pessoas que está conhecendo e participar do que elas fazem”, afirma a professora.

Pensando nesta demanda, a professora Cynthia e sua equipe definiram a rota de visitação turística com foco nas fazendas produtoras de cachaça. Os visitantes podem, então, aprender sobre o modo de produção artesanal da bebida, fazer a degustação e se relacionar com a comunidade local. O intuito é a implantação de um novo modelo de negócios, conta a professora: “a região já recebe muitos turistas e estas visitas guiadas já acontecem, mas de forma muito amadora e, por vezes, não geram nenhum retorno, pois não são cobradas”.

A proposta deste novo molde de negócios é apresentar a visitação turística como uma fonte oficial de renda e forma de lidar profissionalmente com os visitantes. “Em períodos em que não há safra e as vendas são menores, esta é uma excelente maneira de captar recursos”, pontua a professora. O site Cachaça Tour visa contribuir para que a profissionalização aconteça. Nele estão listadas todas as fazendas que participam do projeto, bem como os dias e horários em que estão abertas para turistas.

Funcionando como uma espécie de manual, a página reúne as principais atrações de Salinas, as opções de hospedagem e alimentação e as instruções de localização, que contam com coordenadas geográficas mapeadas pelos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). “A capital mundial da cachaça, como é conhecida Salinas, é sinônimo de prestígio e qualidade entre os apreciadores do produto, e nós queremos ajudar a promover este crédito” diz a professora Cynthia.

A Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (Apacs) recebeu, em 2012, o selo de Identificação Geográfica (IG), modalidade Procedência, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). O selo garante ao consumidor que a bebida é certificada e possui qualidade superior. De acordo com a professora, está é uma conquista muito importante, pois para chegar ao mercado exterior, sobretudo o norte-americano, há uma série de pré-requisitos que devem ser atendidos, e um registro desta natureza colabora com a boa reputação do produto.

Se o projeto obtiver os resultados desejados, acontecerão mudanças benéficas na estrutura de toda a cidade, acredita a professora Cynthia. Sabendo de todas as opções disponíveis de passeios, a tendência é que os visitantes acabem permanecendo por vários dias em Salinas, precisando de serviços de hospedagem, restaurante e guias turísticos, envolvendo vários segmentos da economia local que seria beneficiada. Ademais, esta é uma maneira de absorver a mão-de-obra de alunos formados no curso de tecnólogo em cachaça, oferecido pelo Instituto Federal Campos Salinas.

Nos últimos dias 9 a 11 de outubro, Salinas promoveu a 14ª edição do Festival Mundial da Cachaça, evento que conta com exposições, degustações e vendas do produto. Para a professora, é necessário avaliar como será o movimento turístico na cidade de agora em diante, uma vez que, em razão do festival, a cidade já receberia grande número de visitantes. De todo modo, os turistas que foram ao festival já puderam agendar seus passeios através dos recursos disponíveis no site Cachaça Tour.

*Do USP Online