EACH promove mesa redonda sobre escolas de samba e negritude

Postado em 02 de dezembro de 2022

A mesa que integrou a programação da I Semana da Consciência Negra da USP discutiu a relação entre as escolas de samba paulistanas e a negritude, partindo do entendimento destas agremiações como importantes núcleos de sociabilidade na cidade e para além dos desfiles de carnaval que promovem.

A EACH recebeu 3 convidados, todos sambistas, que abordaram essa relação sob diferentes aspectos. Cada um deles fez uma apresentação inicial com cerca de 30 minutos e, posteriormente, os participantes puderam fazer perguntas e comentários. O evento contou também com transmissão virtual.

Tadeu Kaçula, sociólogo e doutorando no PROMUSP, apresentou uma contextualização histórica do desenvolvimento do samba paulista, dos batuques do interior do estado (Jongo, Tambú e Samba de Bumbo) para a capital, com o surgimento os primeiros grupos carnavalescos, formados majoritariamente por pessoas negras e periféricas, no início do século XX – como o Grupo Barra Funda, que se transformaria posteriormente na escola de samba Camisa Verde e Branco.

O embranquecimento dessas agremiações ao longo do desenvolvimento e oficialização do carnaval da cidade foi destacado pelo pesquisador, que refletiu sobre o atual modelo de desfiles no sambódromo, a influência do capital e, consequentemente, os impactos destes fatores nas escolas (desde suas atividades, público, até sua dimensão simbólica).

Já Fernando Penteado, um importante sambista da cidade, mestre embaixador do samba paulista e diretor cultural da escola de samba Vai-Vai, fez uma fala permeada por suas vivências – são mais de 60 anos como componente da escola – e pelas tradições dos relatos orais que compõem o universo das escolas de samba, ressaltando a ancestralidade dos símbolos, rituais e elementos presentes até hoje. O preterimento de sambistas negros por novos integrantes brancos nas posições de poder, liderança e visibilidade, sobretudo a partir da década de 70, também foi ressaltado criticamente pelo baluarte.

A terceira convidada, Lyllian Bragança, jornalista, abordou o tema com um recorte de gênero. A partir de sua trajetória como passista e da sua atuação no Coletivo Samba Quilomba – do qual é cofundadora – , refletiu sobre a presença da mulher negra nos espaços das escolas e temas como o machismo, a violência doméstica e a sexualização dos corpos negros. Lyllian ressaltou o potencial transformador e político da socialização dentro de uma escola e os ensinamentos presentes neste processo. Nas suas palavras: “Foi na escola de samba que eu me reconheci mulher preta”.

A realização da mesa foi um marco importante por proporcionar um espaço de reflexão, dentro da academia, a partir do contexto cultural do samba e de narrativas não hegemônicas nestes ambientes, através do conhecimento e das vivências de sambistas negros da cidade. Este fato é ainda especialmente relevante em um campus que tem uma roda de samba semanal, formada por alunos e funcionários (@alestedosamba), e que possui pesquisadoras e pesquisadores (ingressos e egressos) que refletem sobre esta temática.

 

*Com informações de Juliano Barbosa.