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Rádio USP: Morte de meio bilhão de abelhas é consequência de agrotóxicos
Postado em 05 de abril de 2019
Em três meses, meio bilhão de abelhas foram encontradas mortas no Brasil. É o que aponta o levantamento de Agência Pública e Repórter Brasil. O professor Tiago Maurício Francoy, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e especialista em abelhas, explica por que isso está acontecendo e qual alerta temos que ter diante da estatística.
“O que acontece é que as abelhas precisam buscar néctar e pólen das flores e elas acabam visitando essas plantações, e esse uso de agrotóxicos, que aqui no Brasil está se tornando cada vez mais intenso e prejudicial, acaba por levar à morte essas abelhas”, afirma Francoy.
O regimento de agrotóxicos no Brasil está indo em direção contrária ao que os países desenvolvidos estão fazendo. “Esses agrotóxicos estão banidos na Europa e nos Estados Unidos há muito tempo já. E aqui, no Brasil, estamos seguindo o caminho inverso e liberando cada vez mais agrotóxicos.”
O especialista pontua que a morte das abelhas provavelmente é maior do que apenas meio bilhão em três meses, “porque quem está fazendo essa conta de quantas abelhas morreram são os apicultores, é quem vai todo dia à colmeia e vê que a abelha morreu. Mas o que acontece é que nós temos ainda uma diversidade de abelhas nativas, tanto sociais quanto solitárias, que estão morrendo silenciosamente, sem ninguém se dar conta por viverem em matas ou entornos.”
A importância das abelhas vai muito além da produção de mel, tendo o papel fundamental de polinização. “As abelhas no mundo são responsáveis pela polinização de 75% de todas as plantas com flores que nós temos disponíveis no planeta.”
O uso indiscriminado de agrotóxicos para a produção agrícola gera um ciclo vicioso. “A gente usa o agrotóxico pra tentar fazer com que menos pragas vão às plantações para devastar aquelas plantações, só que, junto com as pragas morrem também os insetos benéficos. E aí você diminui a produtividade, porque tira o polinizador. E aí você desmata mais o entorno, diminui a área onde a abelha pode morar, usa mais agrotóxico para tentar aumentar a plantação. Só que você diminui a população de polinizadores e diminui também a produção, e assim vai…”, explica o especialista.
Além da produção agrícola, as abelhas também são importantes para as áreas verdes, de preservação ambiental. “Qualquer área de preservação e tudo mais, sem abelha você tem uma queda brusca na reprodução dessas plantas, e isso leva a uma diminuição na produção de frutos, do tamanho da área verde… e aí entra numa cadeia destrutiva, porque a planta é alimento de herbívoro, herbívoro é alimento de carnívoro. Se você começa a diminuir um, você vai afetar a cadeia inteirinha.”
A EACH está desenvolvendo um trabalho de conscientização das abelhas nativas sem ferrão, chamadas de jataía, que são sociais e também produzem mel. “A vantagem dela é que, por ela não ter ferrão, você consegue criar essas abelhas no fundo de casa. Então a gente está começando agora uma série de cursos que nós vamos ministrar aqui na USP Leste, justamente para ensinar a população em geral a criar essas abelhas, obviamente que nosso intuito é de preservação, mas também demonstrando pra população a parte da importância e também deles poderem explorar numa espécie de agricultura familiar e tirar até uma renda do mel produzido dessas abelhas.”
*Da Rádio USP